O Amor Bate na
Aorta
Carlos Drummond de Andrade
Cantiga de
amor sem eira
nem beira,
vira o
mundo de cabeça
para baixo,
suspende a
saia das mulheres,
tira os
óculos dos homens,
o amor,
seja como for,
é o amor.
Meu bem,
não chores,
hoje tem
filme de Carlito!
O amor bate
na porta
o amor bate
na aorta,
fui abrir e
me constipei.
Cardíaco e
melancólico,
o amor
ronca na horta
entre pés
de laranjeira
entre uvas
meio verdes
e desejos
já maduros.
Entre uvas
meio verdes,
meu amor,
não te atormentes.
Certos
ácidos adoçam
a boca
murcha dos velhos
e quando os
dentes não mordem
e quando os
braços não prendem
o amor faz
uma cócega
o amor
desenha uma curva
propõe uma
geometria.
Amor é
bicho instruído.
Olha: o
amor pulou o muro
o amor
subiu na árvore
em tempo de
se estrepar.
Pronto, o
amor se estrepou.
Daqui estou
vendo o sangue
que corre
do corpo andrógino.
Essa
ferida, meu bem,
às vezes
não sara nunca
às vezes
sara amanhã.
Daqui estou
vendo o amor
irritado,
desapontado,
mas também
vejo outras coisas:
vejo beijos
que se beijam
ouço mãos
que se conversam
e que
viajam sem mapa.
Vejo muitas
outras coisas
que não
ouso compreender...
1-) Análise a obra acima e responda:
a-) O autor faz
uma analogia com a palavra "aorta", você sabe o que é isso? Comente o
que ele quis dizer.
b-) O poema vai
se construíndo do denotativo para o conotativo e a palavra "amor" vai
ganhando dimensões, até que: "amor irritado, desapontado" aparece.
Reflita sobre essa construção e comente o que o autor quis fazer com isso.
c-) Carlos
Drummond de Andrade (1902-1987) é um dos maiores poetas da língua portuguesa.
Você conhece outras obras dele? Se sim, fale sobre elas.
fonte:DE ANDRADE, Carlos Drummond. O amor bate na aorta. https://m.letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/1854060/ acessado em 17/10/2019.
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