Poucos pores
do sol atrás, estávamos eu e meu cachorro em um dos poucos parques da cidade
que permitem a entrada de animais quando algo tirou-nos a paz: um pug que
passeava livremente pelo local teve a brilhante ideia de confrontar meu boxer.
Descansávamos
embaixo de uma amoreira; infelizmente, não era a época adequada para que me
deleitasse com as maravilhosas frutas, eu fumava um cigarro enquanto meu
companheiro, deitado e ligeiramente ofegante, assistia aos demais visitantes.
De repente, vindo de lugar nenhum, um pug metido a rottweiler resolveu comprar
briga com os 37 quilos e meio de puro músculo do meu cachorro.
Caro leitor,
preste muita atenção, por favor, o tamanho diminuto e a pedigree de seu animal
não são desculpas para deixá-lo perambular sem guia em espaços públicos. Mas
enfim, em alguns fragmentos de segundos, aquela pequena aberração, fruto da
superficialidade humana, estava a pouco mais de um metro de nós, com uma
postura que assustaria pela agressividade se não fosse cômica pela aparência do
animal.
Aliás, meus
amigos amantes (ou não) de animais, que coisa assombrosa foi feita pelos homens
durante o desenvolvimento dessa raça! E não foi algo isolado, como a façanha de
Victor Frankenstein, demandou anos e mais anos para evoluir gradativamente nesses
seres contrafeitos. E digo mais, a criaturinha não é barata não, custa centenas
de reais!
Os coitados
possuem uma gama enorme de problemas de saúde que são consequência direta da
intervenção humana, a qual visava única e exclusivamente gerar de forma
artificial essa aparência tão singular. Todas as características estéticas do
pobre bichano resultam em sérias condições médicas, a ambição humana de brincar
de Deus custou a eles a possibilidade de uma qualidade de vida satisfatória.
Ele não respira direito, seu coração não dá conta do serviço, não anda certo,
seus ossos - principalmente os da cabeça e as vértebras - são deformados, ele
sofre de alergias e regularmente a morte desses animais é tão súbita quanto a
inspiração de um escritor. Tudo isso para apetecer a vaidade se seus donos.
De qualquer
maneira, em um movimento reflexo, coloquei-me entre ambos os cães e quando o
pug tentou driblar-me, reagi pegando-lhe em meus braços. O pequeno monstrinho
foi salvo e agradeceu-me da forma mais inesperada possível: o danado me mordeu!
Felizmente, com um focinho tão atarracado, seu ataque doeu muito mais no
orgulho do que machucou, de fato, minha mão.
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